A bailarina era tão grande
como uma árvore caminhante;
e seus braços longos e brancos
tão fugitivos e flutuantes
como as nuvens filhas dos campos.
O giro de sua cintura
- rápida e fina como um fuso –
era de firmeza profunda
e fragilidade tão pura
como as do próprio eixo do mundo.
Oh! – o desdobramento amplo e calmo
de seus joelhos! O círculo alto
que o tênue pé determinava!
Limite da fluidez humana...
Límpido e implacável compasso...
Voava! – e logo se desfazia,
Num gesto de albatroz rendido.
E de novo aos ares a vida
arriscava, impotente e linda,
algemada ao peso inimigo.
E tão divinamente exata
vinha à terra e aos céus se elevava
que era tão grave o instante alado
como o da derrota no espaço
- mas ambos igualmente plácidos.
Ó bailarina, ó bailarina,
deusa da estreita geometria!
ó compasso, ó balanço, ó fio
de prumo, ó secreto algarismo,
primeiro e eterno número ímpar!
Alça o teu voo além da queda,
rompe os elos de espaço e tempo,
galga as obrigações da terra,
atira-te em música, ó seta,
e restitui-te em pensamento!
Cecília Meireles