segunda-feira, 22 de novembro de 2010


















Teus Olhos
Florbela Espanca

Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.

Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!

Olhos do meu Amor! Fontes...cisternas...
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha...catedrais eternas...

Berço vindo do Céu à minha porta...
Ó meu leito de núpcias irreais!...
Meu suntuoso túmulo de morta!...
Auto-Leitura
Mario Quintana

A minha obsessão por sapatos e vacas
Diverte os amigos
Os inimigos
Os psicólogos
Creio que diverte também até as próprias vacas
- menos a poesia!
















A Imagem Perdida
(para Sergio Faraco )
Mario Quintana

Como essas coisas que não valem nada
E parecem guardadas sem motivo
(Alguma folha seca... uma taça quebrada)
Eu só tenho um valor estimativo...

Nos olhos que me querem é que eu vivo
Esta existência efêmera e encantada...
Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
Refletirá meu vulto vago e esquivo...

E cerraram-se os olhos das amadas,
O meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
Nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...

E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
Muitas vezes parei... e, nos espelhos,
Procuro em vão, minha perdida imagem!