terça-feira, 14 de setembro de 2010
Eis a Casa
Cecília Meireles
Eis a casa
menos que ar
imponderável,
no entanto é branca de camélia
e tem perfume de cal
Com seus corredores
O alpendre
As janelas uma a uma
Vê-se o mar. As montanhas. O trem passando
O gasômetro
Vêem-se as árvores por cima com suas flores
A casa imponderável
Mas de cimento madeira tijolos ferro vidro
A pintura prateada das grades cheira a óleo a fruta a luz
A água a pingar cheira a musgo,
soa metálica, trêmula
insetos pássaros líquidos
pequenas estrelas
clarins muito longe
Peitoris gastos de braços antigos
Sombras de borboletas
Eu sei quem comprou a terra
quem pensou nos desenhos
quem carregou as telhas
Passam legiões de formigas pelos patamares
Eu sei de quem era a casa
quem morou na casa
quem morreu
Eu sei quem não pôde viver na casa
É uma casa
com seus andares
suas escadas
seus corredores
varandas
aposentos
alvenaria
muros
imponderável.
Uma casa qualquer.
Cruz que se carrega.
Imponderávelmente, para sempre, às costas.
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